Por: Sara Geraldes
“A ceifa, o Transporte e a Malha dos Cereais” é uma tradição recuperada na aldeia de Morais, em Macedo de Cavaleiros. Pelo sexto ano consecutivo, a AMMOR, Associação de Melhoramentos e Amigos de Morais e a autarquia local organizaram a iniciativa que começou no sábado à noite com um arraial popular. Ontem bem cedo, pelas sete da manhã começou o trabalho no campo.
É ao som de cantigas populares que se ceifa, transporta e malha o trigo. Uma rotina que não é assim tão distante para grande parte dos habitantes da aldeia de Morais. Agora a tradição é recordada pelo sexto ano consecutivo, Angelina Alves conta como se fazia na sua mocidade.
“ Era com um trilho, de volta com vacas. A gente estendia o pão numa roda e as vacas andavam de volta e andávamos em cima de um objecto que lha chamavam o trilho. E andávamos de volta, depois virava-se… E era assim que se malhava o pão… Quando eu tinha por volta de 15 anos é que apareceram as máquinas esbulhadoras, como nós lhe chamávamos…”.
Um tempo muito diferente do que se vive agora. Angelina Alves considera importante mostrar estas tradições às gerações mais novas.
“Estou a gostar. Gosto muito do tempo antigo. As tradições não se deviam deixar acabar… Para que estas pessoas novas saibam pôr o valor aos trabalhos dos pais e dos avós, eles não sabem… Às vezes eu conto aos meus filhos: ‘A vossa avó era assim, andava com as ovelhas…andava-se a cegar… e de madrugada iam a apanhar os molhos…’. E os meus filhos perguntam-me: ‘Oh mãe, então era uma vida tão escrava?Era meu filho, era uma vida dura, vós hoje não conheceis o que é trabalho…”.
Quem se lembra bem desta rotina é Domingos Alves que se encontra a malhar o trigo e nos conta como se chama o utensílio de madeira que tem na mão.
“É o malho, para malhar o centeio, para fazer a ‘bancelha’ para atar o trigo… É uma tradição antiga dos velhos…Usou-se sempre esta tradição, até hoje… Há cinco anos que fazem esta brincadeira e é bem recordar o passado…”.
A gastronomia não ficou de parte neste evento que contou com almoço no campo pelas 9 da manhã e merenda na eira, depois da malha.
“Dantes era o mata-bicho, ia-se para a terra a ceifar…Dali a pouco tempo era o almoço, como foi hoje recordada a tradição, depois juntava-se o pão, fazia-se o ‘murrenal’, depois haviam os animais que o apanhavam com os carros a chiar… Depois da ‘carreja’, fazia-se a meda na eira, da eira ia para a malhadeira, da malhadeira ficava em palha que depois ia para o palheiro…”.
O grupo “Toca a Bombar” das Arcas e o Grupo de Cantares de Castelãos proporcionaram também animação às dezenas de visitantes que passaram ontem por Morais.
Mário Teles presidente da Junta de Freguesia de Morais conta que este evento surgiu depois de ter adquirido uma máquina dos anos 80 usada na malha do cereal da aldeia.
“Tudo começou por adquirir a máquina de fazer a malha. Depois de termos adquirido a máquina, tínhamos que ir a buscar o que vem atrás: a ceifa, o transporte e a malha na parte final…”.
O presidente revela que adesão tem sido um sucesso, por isso é uma iniciativa para continuar.
“No primeiro ano as pessoas aderiram muito facilmente. É o sexto ano consecutivo que fazemos e, como viu as pessoas da terra estavam e continuam a estar… Eu não tenho dúvidas que isto vai continuar, não tenho dúvida nenhuma…”.
Também o presidente da autarquia de Macedo de Cavaleiros esteve presente nas malhas. Beraldino Pinto salientou a importância do envolvimento da população de Morais, referindo que este é um evento que atrai cada vez mais visitantes.
“Eu penso que está na mesma linha do que era feito antigamente… A forma como a população se empenha por mostrar como se fazia genuinamente, como se trajam as mulheres e os homens para mostrar como era…Esse empenhamento mostra, de facto, que a alegria de partilhar se mantém e a alegria da colheita veio até este momento”.
Pelo sexto ano consecutivo, a aldeia de Morais recriou a tradição da “Ceifa, Transporte e Malha dos Cereais”.
gostava recordar esses tempos pois sou desse tempo para partilhar com jovens que não sabem nada a não ser passar tempo com novas tecnologias ver os animais puxar o trilho trilhando o pão leva-lo ao celeiro a moagem para farinha etc.
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